O silêncio da matina e as possibilidades.

Julia Coelho
Nov 10, 2020

Tudo que desabrocha dentro da minha cabeça, como pétalas arroxeadas, parece deleitavelmente palpável. Nesses instantes em que as vozes se calam, consigo alcançar minhas memórias de forma súbita e tocá-las incansavelmente. É como se nada mais importasse, além da sensação inédita que sou capaz de permear. Nada e ninguém pode me deter ou dizer que é tolice. Sou apenas eu, e sendo só, posso coordenar minhas tristezas e alegrias sabiamente.

Minha imaginação permanece tateável e mirabolante. Não consigo parar de sonhar, ainda que esteja exausta e com os olhos abertos avermelhados e latejando, implorando para que eu repouse. Apesar disso, o aperitivo dessa noite é um pouco de insensatez. Forço meus olhos, sei que eles irão aguentar mais algumas horas de lampejos criativos. Minha mente trabalha, sem findar, motivada. O sorriso nos lábios é turvo e as lágrimas fazem curvas oblíquas.

Caminho pelas ruas de Paris, danço em bares antigos e coloquiais, planejo uma revolução, ajudo um senhor carente a atravessar a rua, bebo um gole de café preto recém coado; a vida acontece na engrenagem da minha mente imaginativa e os desatinos nunca deixam a desejar. Sou eu que controlo tudo. A líder de todos os absurdos e serva das paixões mais inapropriadas. Eu comando todas as viagens noturnas, fazendo com que elas se tornem vívidas e emocionantes em minha memória, penetrando as minhas percepções mais sensíveis.

O silêncio da matina me fascina, pois me oferece inúmeras possibilidades de entretenimento. Mas, o meu arrebatamento sempre me impulsiona ao voo.

--

--

Julia Coelho

Escritora e poeta, multifacetada na arte, morrendo e renascendo através das palavras. @Juulia.coelho no Instagram!