O silêncio da matina e as possibilidades.
Tudo que desabrocha dentro da minha cabeça, como pétalas arroxeadas, parece deleitavelmente palpável. Nesses instantes em que as vozes se calam, consigo alcançar minhas memórias de forma súbita e tocá-las incansavelmente. É como se nada mais importasse, além da sensação inédita que sou capaz de permear. Nada e ninguém pode me deter ou dizer que é tolice. Sou apenas eu, e sendo só, posso coordenar minhas tristezas e alegrias sabiamente.
Minha imaginação permanece tateável e mirabolante. Não consigo parar de sonhar, ainda que esteja exausta e com os olhos abertos avermelhados e latejando, implorando para que eu repouse. Apesar disso, o aperitivo dessa noite é um pouco de insensatez. Forço meus olhos, sei que eles irão aguentar mais algumas horas de lampejos criativos. Minha mente trabalha, sem findar, motivada. O sorriso nos lábios é turvo e as lágrimas fazem curvas oblíquas.
Caminho pelas ruas de Paris, danço em bares antigos e coloquiais, planejo uma revolução, ajudo um senhor carente a atravessar a rua, bebo um gole de café preto recém coado; a vida acontece na engrenagem da minha mente imaginativa e os desatinos nunca deixam a desejar. Sou eu que controlo tudo. A líder de todos os absurdos e serva das paixões mais inapropriadas. Eu comando todas as viagens noturnas, fazendo com que elas se tornem vívidas e emocionantes em minha memória, penetrando as minhas percepções mais sensíveis.
O silêncio da matina me fascina, pois me oferece inúmeras possibilidades de entretenimento. Mas, o meu arrebatamento sempre me impulsiona ao voo.